A História acontece como tragédia e se repete enquanto farsa. Karl Marx. 18 brumário

quinta-feira, 25 de março de 2010

Imprensa, Lula, Dilma e Serra

Cidadania.com - UOL Blog

Imprensa quer calar Lula

Na última quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a cobertura da imprensa ao seu governo. Alguns dias antes, disse que “editoriais” dos grandes jornais atacando-o seriam escritos por “falsos democratas”.

Nesta quinta-feira, os alvos das críticas presidenciais reagiram. O tom deles é de acusação ao presidente por ele supostamente pretender calar a imprensa. Um exemplo desse tom veio do jornal Folha de São Paulo no editorial “Devaneio autocrático”, o qual reproduzo em itálico e vou comentando ponto por ponto.

Devaneio autocrático

A DEMOCRACIA, numa definição de manual, é um sistema de governo no qual o povo exerce a soberania e elege seus dirigentes por meio de eleições periódicas; é um regime em que estão asseguradas as liberdades de associação e de expressão. Todos esses princípios estão plasmados na Constituição de 1988 – ela própria uma conquista democrática.

Por que definir para o leitor o sentido da democracia? A intenção, claro, é a de apontar alguma ameaça a esses preceitos contida nas críticas do presidente Lula à imprensa supra mencionadas.

Isso tudo é óbvio. Mas quem impele a repisá-lo é o presidente da República. Na versão de Luiz Inácio Lula da Silva, a democracia muito frequentemente – e cada vez mais – surge como se fosse uma concessão da sua vontade. Ele não parece tratá-la como valor, mas como capricho.

Espera-se, neste ponto, que se reproduza o ponto do discurso do presidente em que trata a democracia como concessão sua. Vejamos, a seguir, as palavras de Lula das quais o editorial reclama.

O vezo autoritário do mandatário se torna flagrante quando o que está em questão é a divergência de opinião ou o compromisso com a liberdade de imprensa. Lula não tolera ser criticado e convive mal com esforços de fiscalização de seu governo.
Ontem, numa cerimônia, ele disse:

"Acabei de inaugurar 2.000 casas, não sai uma nota. Caiu um barraco, tem manchete. É uma predileção pela desgraça. É triste quando a pessoa tem dois olhos bons e não quer enxergar. Quando a pessoa tem direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada. É triste, melancólico, para um governo republicano como o nosso".

Quero saber em que “manual de democracia” (a expressão é da Folha) está escrito que um governante não pode reclamar da imprensa.

Para ameaçar a liberdade de expressão, um governante tem que fazer mais do que falar: ele tem que agir. Contudo, uma das associações internacionais que esse jornal apóia, a Associação Internacional de Radiodifusão, premiou o presidente no ano passado justamente por ele jamais ter tomado qualquer medida contra seus críticos na imprensa.

Detalhe: quem entregou o prêmio a Lula foi ninguém mais, ninguém menos do que o Presidente da Abert, Daniel Pimentel Slavieiro, segundo o Jornal da Globo.

E o editorial prossegue:

Talvez seja o caso de mencionar os mensaleiros, os aloprados, o "roçado de escândalos" da aliança com o PMDB. Ou, ainda, os benefícios pouco ortodoxos concedidos com dinheiro público a algumas empresas que este governo elegeu para implementar sua versão de "capitalismo de Estado". Nada disso compõe um figurino "republicano".

Bem, talvez também seja o caso de o jornal mencionar os escândalos do grupo político que apóia furtivamente, integrado pelo PSDB, pelo DEM e pelo PPS, tendo como figuras de proa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador José Serra.


E o jornal apóia esse grupo, ainda que sem admitir, porque, nos últimos sete anos e tanto, esse veículo e seus pares apoiaram todas as posições oposicionistas contra as situacionistas, em termos federais.

Mensure-se quantas vezes o setor da imprensa que a Folha integra ficou do lado do governo e quantas ficou ao lado da oposição e se comprovará o que digo. Por isso, nunca se viu e nunca se verá uma acusação a Serra de não vestir o tal figurino “republicano”, pois seu governo, cheio de escândalos e acusações da oposição, não deve ter recebido um milésimo das críticas diárias e sistemáticas que são feitas ao governo Lula, apesar de governar o Estado em que o jornal está sediado.

O que mais impressiona, porém, é o raciocínio embutido na seguinte frase de Lula: "É triste quando a pessoa tem o direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada". É uma afirmação tosca, sem dúvida, mas antes disso autocrática. Não faz sentido no contexto da democracia.

A imprensa tem de ser livre, inclusive para errar – e responder por isso perante seu público ou à Justiça, sempre que for o caso. Essa liberdade atende sobretudo ao direito do cidadão de ter acesso a informações.

Ok, a imprensa tem que ser livre. E onde foi que ela deixou de ser livre? Por acaso Lula tomou alguma medida contra a imprensa? Deixou de lhe dar verbas oficiais? Pediu a cabeça de algum jornalista, como faz um certo governador de Estado muito ao gosto da Folha? A resposta é não. Lula apenas criticou os seus críticos como é direito até do mais humilde cidadão fazer.

Lula disse ainda que "setores da imprensa" deveriam olhar para pesquisas de opinião antes de tirar conclusões sobre ações públicas de seu governo. Em alguns casos, como o desta Folha, as pesquisas são realizadas pelas mesmas empresas cujo trabalho Lula busca desqualificar.

Será que o fato de a Folha ter um instituto de pesquisa que dá boas notícias para Lula, talvez até para não divergir criminosamente de outras sondagens e se desmoralizar, dá ao jornal o direito de não admitir que aquele que critica tanto e com tanta virulência critique igualmente a quem o criticou? Se alguém quer calar alguém, não me parece que seja o presidente da República.

Tampouco é verdadeira sua afirmação de que avanços sociais ou do país obtidos neste governo não tenham sido noticiados. Foram – e de maneira exaustiva.

O problema é outro. Recentemente, o presidente da República agrediu os valores democráticos ao equiparar os presos políticos de Cuba aos presos comuns do Brasil – e endossar os crimes de uma ditadura.

Agora, ao criticar mais uma vez a imprensa, comporta-se como quem aspira à unanimidade – algo que está longe de ser um padrão democrático.

Como diriam FHC e Serra, além do “nhenhenhém” e do “trololó” ideológicos sobre Cuba, que nada têm que ver com a conversa por se tratarem de opinião do jornal e não de paradigmas universalmente aceitos, pergunta-se por que Lula aspira à unanimidade ao criticar quem o critica e a imprensa não, se ela faz a mesma coisa que ele?

O que essa imprensa quer é que Lula apanhe calado. Não aceitar que o presidente opine sobre quem opina sobre ele é o único devaneio autocrático que se pode encontrar nessa questão.

Escrito por Eduardo Guimarães às 13h21

maior cronista do Brasil

Já foram escritos milhares de artigos sobre o comportamento dos grandes meios de comunicação em relação ao governo Lula. Análises abalizadas procuram, há quase oito anos, mostrar, em argumentações intrincadas, como aqueles meios se negam a reconhecer o que essa maioria impressionante dos brasileiros enxerga, uma maioria que abrange cada segmento social, do mais instruído e rico ao mais pobre e inculto.

Fiquei surpreso, pois, com uma das famosas metáforas do presidente Lula proferida ontem em um seu discurso. Com um punhado de palavras, ele resumiu, de forma genial, como essas empresas de comunicação – e os políticos por trás delas – agem nessa guerra política sem quartel que travam a cada dia, há tanto tempo, visando desmerecer o sucesso que este país está alcançando.

A metáfora, na verdade, é também uma piada. Mas a imagem é genial. Resume, como jamais vi, a essência dessa atitude literalmente infantil ordenada pelos donos desses impérios de comunicação a jornalistas intelectualmente domesticados pelas raras oportunidades de subir na carreira bajulando o patrão que existem hoje na imprensa brasileira.

Divirtam-se, abaixo, com essa metáfora maravilhosa do genial Luiz Inácio Lula da Silva. De longe, o maior cronista do Brasil na atualidade.

Uma vez eu parei numa padaria – Marisa ficou no carro, eu fui comprar um pão. Cheguei lá, pedi o pão e perguntei: ‘Quanto que é?’

O cidadão do caixa falou assim pra mim: ‘Nossa, você parece o Lula! A voz do Lula...’

E um cidadão, que estava atrás de mim, falou: ‘mas não é o Lula, porque eu conheço o Lula. O Lula é mais alto, é mais moreno’.

E eu ali, na frente de um cara querendo me conhecer, e o cidadão desaforado, atrás, dizendo: ‘Não é o Lula’.

Eu fui obrigado a pegar a minha identidade e mostrar pro companheiro: ‘Companheiro, eu sou o Lula’. E ele falou: ‘É, mas não parece’.

É assim que determinados setores da imprensa se comportam (...)

Escrito por Eduardo Guimarães às 00h43
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24/03/2010

Pagando bem, que mal tem?

Acabo de ter uma percepção do quadro político que vai se formando e esse quadro aponta para uma verdadeira demolição eleitoral da oposição ao governo Lula nas eleições deste ano. Os indícios que tenho colhido em meus negócios mostram um furacão eleitoral se aproximando, formado por uma situação de euforia econômica que se apodera do país.

Hoje pela manhã, estive com dois jovens industriais. São irmãos, a segunda geração de uma empresa familiar com 45 anos de atividade. Descendentes de italianos e residentes em um dos redutos mais conservadores de São Paulo, o bairro da Móoca, são capitalistas convictos que integram fielmente o perfil do eleitor do PSDB hoje, de forte inclinação direitista, inclusive ao ponto de poder ser qualificado de direita e não meramente de centro-direita.

Com esses empresários, você tem o pacote completo da direita mais radical paulista-paulistana, oriunda de famílias antigas na região, de forte perfil conservador e proprietárias de sólidos negócios, além da situação econômica bastante consolidada e confortável. Chamam o Bolsa Família de “assistencialista”, acham que a corrupção explodiu no país, são contrários às cotas para negros etc.

Evito de conversar sobre política com empresários com os quais tenho negócios. Adotei essa regra faz muito tempo. Desde os anos 1990. Porém, nunca deixo de dizer minhas posições em relação ao que acho que deve ser feito no Brasil. Sempre digo que um país tão desigual não vai para frente e, aliás, a classe empresarial paulista, em boa medida, concorda com essa premissa.

O que varia são as visões dos empresários sobre como se deve fazer para resolver esses problemas. A maioria acha que há que “ensinar a pescar em vez de dar o peixe”. Trata-se do velho chavão da direita para dizer que não quer distribuir renda de jeito nenhum, que os pobres é que devem se virar e produzirem a própria renda.

Mas não se pode negar que esses empresários específicos que menciono descendem de uma família de imigrantes italianos que veio para o Brasil com uma mão na frente e outra atrás e enriqueceu trabalhando duro, passando por dificuldades imensas, e que são pessoas honestíssimas, cumpridoras de seus deveres e dos mínimos detalhes dos acordos que fazem.

Foi por isso que me surpreendi quando, em nossa reunião desta quarta-feira, entoaram, com maior ênfase, uma melodia doce para estes ouvidos progressistas, uma cantiga que venho ouvindo dos vários empresários com os quais tenho contato, sendo alguns de empresas de maior porte.

A situação do negócio deles que me relataram, repito, não é a primeira que vejo parecida, mas foi exposta de uma forma absolutamente eufórica. Estão implantando o terceiro turno na fábrica de 140 funcionários porque as vendas não param de crescer. E dizem que não conseguem mais contratar ninguém pagando menos de mil reais por mês. Nem para faxina.

Vários empresários já me relataram falta de mão-de-obra, sobretudo um pouco mais especializada, como torneiros mecânicos, vendedores, técnicos de informática, auxiliares contábeis etc. Há previsão de que, nos próximos meses, os salários a oferecer terão que aumentar. O empresariado terá que começar a disputar empregados a tapa.

Aí vem a surpresa, pois. Um dos empresários que mencionei me disse hoje, diante do irmão, que tinha uma “boa notícia” para mim, de que seria “obrigado a votar em Dilma”. Fiquei surpreso. Perguntei por que essa seria uma “boa notícia” exclusivamente para mim. Ele me respondeu que já tinha percebido que sou “petista”.

Sem dizer que sim, nem que não, perguntei por que ele seria “obrigado” a votar em Dilma. Respondeu-me que não dava pra arriscar o processo de crescimento “violento” que vige na economia, que não dava para arriscar mudar uma rota que está lhe enchendo os bolsos de dinheiro e que, apesar de não gostar deste governo, já não daria mais para mudar de rota porque sabe-se lá o que pode mudar na economia se quem se diz o oposto deste governo vencer a eleição.

Esse, pois, é o fenômeno que acho que passará a crescer com muita força nos próximos meses. Se se puder tomar o meus segmento de atividade como parâmetro, penso que, na hora de digitar o número do candidato na urna eletrônica, o que pesará, para o eleitor, será a intenção de manter tudo como está, porque tudo está indo bem para cada vez mais gente hoje, em todas as classes sociais e regiões do país.

Com a sensação de segurança e de euforia econômica, com o poder aquisitivo que não pára de aumentar, com os negócios indo de vento em popa, acontecerá com o eleitorado brasileiro o mesmo que aconteceu durante a votação no Congresso nacional da entrada da Venezuela no Mercosul.

Apesar dos discursos inflamados contra Hugo Chávez e contra a inserção da Venezuela no acordo de livre comércio do Cone Sul, os que pagam a conta do festim ideológico da direita, os empresários, disseram a tucanos e demos que poderiam discursar o quanto quisessem, mas não ao ponto de impedir que faturem a montanha de dinheiro que a adesão do país lhes propiciaria.

Não há ideologia ou preconceito que resista a dinheiro no bolso. Sendo este governo de “comunistas” (como diz a direita mais exaltada) ou não, fica valendo aquela boa e velha máxima de que, “pagando bem, que mal tem?”.

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