A História acontece como tragédia e se repete enquanto farsa. Karl Marx. 18 brumário

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Invasores porcos - Vi o Mundo - O que você nunca pôde ver na TV

Invasores porcos - Vi o Mundo - O que você nunca pôde ver na TV: "Invasores porcos

Regiões que nunca alagaram, como a passagem de nível da avenida Paulista, tem alagado nos últimos dias. Isso significa, sim, que tem chovido muito em São Paulo. E deixa claro que a cidade não está preparada para enfrentar chuvas fortes.
Chuvas que podem acontecer em 2010, em 2011, em 2012... Quem sabe?
Depois de ter saltado do trampolim municipal para o trampolim estadual, o governador José Serra está pronto para mais um salto.
O essencial é que as chuvas passem logo e caiam no esquecimento do grande público eleitor.
A Sabesp, aquela que joga esgoto diretamente nos rios, é acima de tudo um instrumento de campanha.
Faz propaganda eleitoral de seus 'serviços' no Brasil todo, enquanto mal dá conta de fazer o serviço para o qual existe e foi criada em seu estado de origem. Para fazer isso, 'privatiza' o controle das águas dos reservatórios que compõem o Alto Tietê. 'Privatiza' e ainda entra com um bilhão de reais. Obras que o próprio estado poderia ter feito, mas que a Sabesp acha mais fácil privatizar para evitar essa bobagem de 'licitações'.
A opção preferencial do governo está clara e, para isso, conta com o apoio mal disfarçado da mídia: culpar São Pedro e os moradores, seja pelo lixo que de fato eles atiram nas ruas e nos rios, seja por morarem 'onde não deveriam morar'.
Na prática, essa opção significa fechar as comportas da barragem da Penha sempre que chuvas mais fortes se anunciam: melhor encher os bairros pobres da zona Leste do que inundar as obras de ampliação das marginais que levarão mais automóveis para as vizinhanças de um rio que transborda. Transborda por falta de manutenção da obra bilionária feita com a promessa de eliminar as enchentes, a ampliação da calha do Tietê.
O governo estadual conta com a ignorância do eleitorado, para a qual a mídia contribui. Quando a ampliação for inaugurada a temporada de chuvas terá acabado e fica para 2011 constatar se o rio transbordará sobre um número maior de automóveis.
Como se José Serra tivesse feito uma grande 'concessão', anuncia-se que a limpeza do rio Tietê passará a ser o que deveria ter sido desde que a obra de ampliação da calha foi inaugurada. Nem um pio, nem uma cobrança sobre o fato de que o governo não fez a limpeza do rio Tietê nos anos de 2006, 2007 e 2008, como apurou a colega Conceição Lemes.
Nem uma cobrança sobre a opção preferencial pelas obras, que pune moradores que moram onde supostamente não deveriam morar -- na várzea --, várzea que abriga prédios públicos construídos pelo governo que agora quer expulsá-los porque eles estão onde não deveriam estar.
É tudo assim, no improviso -- nas coxas, se dizia no interior --, desde que o estado esteja mais a serviço de alguns que de outros, mais a serviço dos automóveis que dos pobres, mais a serviço de uma campanha eleitoral que dos cidadãos e contribuintes.
Com a devida cobertura da mídia, vai-se empurrando com a barriga até que acabe a temporada das chuvas.
Asfalto poroso, para reduzir a velocidade das águas? Caixas de coleta de água de chuva nos condomínios, como forma de reduzir a vazão? Mais parques e menos asfalto? Nem uma única ideia, projeto ou sugestão inovadora.
A proposta é de fazer agora o que já deveria ter sido feito: varrer as ruas direito e limpar o rio Tietê. E torcer para que as chuvas acabem logo e não atrapalhem o planejamento eleitoral, que é o que realmente importa preservar.
Para isso, é preciso contar com a culpa 'dos outros'. Sempre os outros. São Pedro, os próprios paulistanos -- invasores e porcos --, os prefeitos da região metropolitana que jogam esgoto no Tietê -- coisa que a Sabesp também faz. Só falta pendurar o El Niño em um pau-arara para fazer com que ele confesse a culpa pela maldição paulistana.
Parece loucura, mas há método nessa loucura: é a 'naturalização' de um desastre administrativo.
O governador que agora promete limpar o rio que não limpou e o prefeito que promete 'revolucionar' a varrição andam solenemente sobre as águas. Como se tivessem chegado hoje ao poder para controlar os invasores.
Invasores e porcos, esses paulistanos."

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